Quando esperamos alguém, fazemos de tudo para matar o tempo antes que ele nos mate, sendo assim, fui para o local onde o tempo não existe: shopping.
Olhar vitrines não é a minha praia, logo, fui para a praça de alimentação observar pessoas. Enxerguei algumas, vi outras, desconsiderei muitas mais até ela passar.
Não sei por qual motivo, mas ela me chamou atenção desde a sua chegada. Sentou alguns metros a minha frente. Sentou, me olhou e desde então não parou mais. Normalmente o encabulamento é inevitável, desta vez, isso não ocorreu. Fiquei a observa-lá e ela fazia o mesmo comigo. Ninguém escondia nada.
Depois de alguns minutos, ela, me olhando dentro dos olhos, se levanta e vem em minha direção. Senta-se na minha frente, na mesma mesa e diz:
- Oi!
Eu sorri e fiz o mesmo. Passamos a conversar e foi nesse momento que as cartas começaram a embaralhar.
De início era apenas uma mulher conversando com um homem, ambos estranhos, por isso era muito mais fácil ser transparente, afinal de contas, ninguém se conhece e tão pouco sabe se há algo de verdadeiro na prosa.
A cada assunto novo, ela mudava de personalidade: criança, adulto, pessoa idosa, medrosa, a frente de seu tempo, retrógrada, má, boa. Uma infinidade de pessoas vi dentro daquela mulher.
Eis que ela resolveu beber, queria uma cerveja para continuar a conversa. O que estava embaralhado começou a ser colocado em ordem.
Todas as suas personalidades começaram a convergir para uma. Esta uma era na verdade um mix de todas as outras e somente quando ela surgiu que toda conversa anterior passou a fazer sentido. Nesse momento de franqueza ela admitiu para si que, só está a vontade, só se assume, quando bebe ou quando está com ele, pena que ela o mandou embora; agora o que resta a ela é beber.
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