quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Buéca!

Lá vai ele, falando "merda" à doidado
Frases loucas sem sentindo
Gritos no meio da madrugada.

Quantas vezes escutei Mamadeira dizer: Vai maluco, sequelado, retardado, 22!

Quantas vezes vi papai procurando o "louco" que passava as madrugadas gritando pela janela acordando a todos por pura diversão. Só para estorvar

A resposta dele era gargalhar e dizer:Aranha!

Com ele não tem tempo ruim!

Tudo acaba em gargalhada.

Graças a ele lembrei o quanto é bom ser louco, ser pinel, ser feliz!

Ele trouxe para a memória presente a leveza, a felicidade; a minha raiz sofrida, mas sempre sorridente.

A vida é tropical demais para deixarmos nossos sentimentos dentro do paletó europeu!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Lembrei de ti!

Na minha nova e louca rotina, acordei as 16 horas para ir trabalhar. Como de costume fui pegar um copo com água e bebe-lo em frente a janela. Chegando lá deparei-me com a seguinte imagem: um senhor sentado numa cadeira de plástico olhando a vida passar.
Água e ver a vida passar, isso me lembrou o momento que adquiri o costume de beber água ao acordar. Isso foi durante uma longa caminhada pelos Andinos.

Já estava há horas caminhando, logo ia escurecer e eu não via nenhuma vida ao redor, excluindo as plantas. Eis que de repente sai por detrás dos arbustos um senhor miúdo falando tão rápido que só consegui entender o final: Vem comigo!

A mata era fechada. Ele abriu caminho com as mãos e sumiu. Entrar na mata me parecia a melhor opção e foi isso que eu fiz.
Depois de alguns arranhões e tropeços na mata fechada, um clarão surgiu. Era um imenso vale.

A minha esquerda havia um desfiladeiro, a direita a casa do velhinho e mais a frente um enorme lago - que mais tarde descobriria que a água não era tão quente quanto imaginei - onde brincavam uma mulher e algumas crianças.

Quando voltei meu olhar para a casa, o velhinho já estava entrando e fazia sinal para que eu fizesse o mesmo. O cansaço falou mais alto do que a beleza do lago, que a vontade de ver o desfiladeiro mais de perto, do que a vontade de mergulhar e principalmente falou mais alto do que a voz de meu pai ecoando em meus ouvidos quando criança a dizer: Moleque não dá mole, não entra aí!

Uma casa muito diferente foi o que encontrei. Peles de animais e muita madeira foi o que vi. Poucos segundos depois uma menina me segurou forte pela mão e me guiou até o quarto. Chegando lá apontou para a cama. Ela não pronunciou uma palavra sequer, mas entendi tudo. Antes dela sair, fui presenteado com um longo sorriso, um abraço e um "adiós".
Tirei a pesada mochila das costas e deitei. Em poucos segundos estava dormindo de maneira plena, como a muito tempo não dormia.

Meia noite em ponto eu despertei. Sentia como se alguém me chamasse. Pé ante pé fui caminhando pela casa, primeiro as escadas, depois pela sala. Tentava não fazer barulho, mas o ranger da madeira me impossibilitava. Não precisei acender as lamparinas, era noite de lua cheia e a casa não possuía cortinas. Quanto mais eu caminhava pela casa, menos vida encontrava. De repente a pequenina entra pela porta da sala com o corpo pintado e um cocar na cabeça; pega um pequeno instrumento com cordas, segura na minha mão e me leva para fora. Chegando lá parecia que uma enorme lâmpada estava acessa no céu. Perto do lago estava a família dela dançando entorno da uma fogueira. Ainda tenho essa imagem gravada em mim. Assim como as que ocorreram durante a noite.

Timidamente me aproximei. Quanto mais lento caminhava, mais fortes eram os puxões da pequena. Quando chegamos na fogueira ela correu para pegar tintas, enquanto isso seu avô, o velhinho que me buscou na estrada, me enfiou uma folha na boca e mandou que eu a mastigasse. Um gosto amargo foi o que tocou minha papilas gustativas. Pouco tempo depois, a mãe da pequena me deu um copo para beber um líquido. Era um gostoso chá. Foi quando o velhinho pronunciou as suas primeiras palavras: Primeiro o remédio amargo para limpar e purificar, depois a doçura da vida.

Foi ele terminando de falar e a pequena chegando com as tintas para me pintar. Quando ela acabou, apontou para o lago.
- É para eu entrar? - perguntei.
Com a cabeça ela respondeu que sim. Foi nesse momento que descobri o quanto aquelas águas eram frias. Descobri também o que o velhinho quis dizer.

Com a água no pescoço sentia todo meu cansaço físico e espiritual indo embora. Como me diria a pequena mais tarde: aquele lago era mágico.

Quando sai dele uma grande surpresa: o desenho que a menina havia feito tinha se transformado em outro. Não era mais um desenho infantil, ele parecia com os daquela gente da qual eu agora fazia parte. E foi assim que eu me senti a noite toda, parte daquela gente.

Mais folhas para purificar, mais chás gelados, mais bebidas quentes, boa carne e muita dança. A pequenina parecia um anjo dançando.

Pouco antes do amanhecer o velhinho me chamou até o desfiladeiro. Por lá ficamos até o sol chegar. Ele me disse duas coisas que jamais esquecerei: Sempre tome um copo com água antes de dormir e assim que acordar, faça uma prece para limpar os pensamentos e sentimentos ruins que possam ter aflorados enquanto dormia; e sempre escute seu coração, ele fala alto, se comunica bem, foi através dele que minha neta te encontrou, ela ouviu você pedindo ajuda. Está te ouvindo há dias. Do mesmo jeito você a ouviu chamar para a nossa celebração.

O que vocês celebravam?, perguntei curioso.

A sua chegada, pois você vai deixar um pouco de você nessas montanhas e vai levar muito de nós. Será um novo homem, você fez a escolha certa, procurou a purificação para poder voltar a vida na cidade com pouco verde.

Quando ele terminou de falar um vento forte soprou. Ele disse: Toda vez que o vento soprar, peça para ele levar tudo de ruim e trazer o bom e o bem. Nesse momento o pequena chegou e disse: Sua hora chegou, eu te mostro o caminho.

Me levou até o quarto, onde minha mochila estava carregada com comida, água, folhas e chá e me levou até a estrada. Durante todo o tempo ela segurou a minha mão. Na estrada me deu outro beijo, um sorriso, um abraço e disse: você já sabe o que fazer. Quando precisar volte-se para o coração, ele sempre te ajudou. Eu estarei sempre contigo! Só volte quando quiser nos ver, quando a saudade apertar; você já sabe como se purificar, não precisa mais de nós.
Ao pronunciar a última palavra, soltou a minha mão e voltou para a mata.

Olhando esse senhor na cidade com pouco verde me lembrei daquela noite, daqueles dias caminhando.

Meu coração não é mais um ser estranho a mim, é parte de mim. Não sou mais corpo, coração, mente e espírito; sou uma coisa só, sou completo!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

"Histórias Cruzadas".

Um filme, um recorte, uma visão foi o que me restou.

Foi tudo isso que vi nesta tarde; numa tarde que estava perdida, numa tarde de compromissos desmarcados ainda no primeiro tempo.

Eis aqui um preconceito que não feriu minha pele. Eis um preconceito que vejo minha mãe e irmão lutarem contra, que vejo minha irmã “deixar para lá” quando dá. Que muito ouvi papai comentar a respeito. Que sei que vó Paulo e vô Madá passaram na pele, porém, nunca os ouvi prosear a respeito.

Abaixar a cabeça, mudar de lugar, atravessar a rua, ser culpado graças ao tom da pele eram as notas que estavam na partitura da vida. Era? Vai saber. O que sei é que esse tom me fez quebrar as regras. Aqui está mais de um texto no mesmo dia. Um pequeno texto. Um texto que versa sobre algo que deveria estar preso no tempo. Deveria, pois se estivesse não estaria aqui, escrevendo e enxugando lágrimas.

Não passei por isso, não sou ativista, não quero mudar o mudo... então, o que quero com esse texto?


Continuar a minha caminhada, assim como Aibi, com lágrimas na cara, esperança no peito, lápis e papel; só isso. Continuar a caminhar e escrever acerca o que me faz ter esperança, o que me faz focar na parte bela da vida, assim como fez o criativo Guido em “A vida é Bela”. 

Toc toc toc...

­Uns gostam de gastronomia, outros de ler, aqueles de andar de bicicleta, as meninas de sair por aí e ela sabe o gosto de cada um presente nas salinhas.

Toda semana eu a encontro; ela, a música tranquila, suas onomatopeias e agulhas. Conversamos um pouco, normalmente sobre a minha vida e ela se vai por alguns minutos.

Durante esse tempo fico deitado fazendo tudo errado. Deveria estar relaxando, com a cabeça vazia, ouvindo a música, prestando atenção na respiração. Eu até consigo sentir o efeito de estar ali: fico zen! Entro em outra sintonia e passo a pensar na vida, na parte boa dela. As letrinhas começam a surgir em minha mente. Pronto! Mais um texto está sendo produzido lá. Lá a produção é em massa.

Até...

“Toc, toc, toc, toc, toc, toc”.

Já sei que ela está a caminho, seus sapatos – sempre com saltos – anunciam a sua chegada. Poucos segundos depois a luz é acesa e lá está ela sorrindo e eu aqui “tranquilão”.

Lá vou eu dar início a minha rotina louca. Saio tranquilo da saleta tranquila como se fosse um monge e assim permaneço o dia todo.

Obrigado moça!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Enquanto esperava uma amiga...

Quando esperamos alguém, fazemos de tudo para matar o tempo antes que ele nos mate, sendo assim, fui para o local onde o tempo não existe: shopping.
Olhar vitrines não é a minha praia, logo, fui para a praça de alimentação observar pessoas. Enxerguei algumas, vi outras, desconsiderei muitas mais até ela passar.
Não sei por qual motivo, mas ela me chamou atenção desde a sua chegada. Sentou alguns metros a minha frente. Sentou, me olhou e desde então não parou mais. Normalmente o encabulamento é inevitável, desta vez, isso não ocorreu. Fiquei a observa-lá e ela fazia o mesmo comigo. Ninguém escondia nada.
Depois de alguns minutos, ela, me olhando dentro dos olhos, se levanta e vem em minha direção. Senta-se na minha frente, na mesma mesa e diz:
- Oi!
Eu sorri e fiz o mesmo. Passamos a conversar e foi nesse momento que as cartas começaram a embaralhar.
De início era apenas uma mulher conversando com um homem, ambos estranhos, por isso era muito mais fácil ser transparente, afinal de contas, ninguém se conhece e tão pouco sabe se há algo de verdadeiro na prosa.
A cada assunto novo, ela mudava de personalidade: criança, adulto, pessoa idosa, medrosa, a frente de seu tempo, retrógrada, má, boa. Uma infinidade de pessoas vi dentro daquela mulher.
Eis que ela resolveu beber, queria uma cerveja para continuar a conversa. O que estava embaralhado começou a ser colocado em ordem.
Todas as suas personalidades começaram a convergir para uma. Esta uma era na verdade um mix de todas as outras e somente quando ela surgiu que toda conversa anterior passou a fazer sentido. Nesse momento de franqueza ela admitiu para si que, só está a vontade, só se assume, quando bebe ou quando está com ele, pena que ela o mandou embora; agora o que resta a ela é beber.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Whisky de caubói.

Negão, crioulo, preto;
Bicha, veado, sapatão;
Puta;
Tinha que ser branco;
Chinês, coreano, japonês, "é" tudo asiático, tem olho rasgado, pau pequeno e fede;
Paraíba ou cabeça chata;
Gordo, baleia;
Magrelo e varapau.

Quem nunca ouviu uma dessas palavras aqui dentro de casa? Dentro do Brasil.
Quem nunca pronunciou uma dessas palavras?

Preconceito existe meu brother, todo dia recebemos-o e praticamos-o. Não tem como fugir.

Agora ele é feio quando o outro pratica né? Incomoda quando é contra o nosso, agora irmão, que está longe. Pois, quando ele estava ao nosso lado, ele não era visto como irmão e nós o chamávamos carinhosamente de: negão, bicha, sapatão, paraíba, amarelo e muitos outros adjetivos gostosos de ouvir.

Acho válido a comoção, todavia, acho mais interessante chamar o viadinho, o paraíba, a puta, a sapatão, o gordinho e o magro pelo nome. Acho válido olhar o próprio cú a mostra do que depositar uma moeda no cofre alheio.

Mas, e o bom e velho "seu viado safado, quanto tempo"?

Deixa essa frase para os amigos de longa data, para aqueles que sairam no braço para defender o amigo "diferente" (preto, viado, puta, amarelo e afns), para o que de fato e de direito podem. Afinal, só é justificado esse; esse ocorre entre irmãos, as demais formas de carinho, é preconceito e mamãe disse que é feio praticá-lo sem um motivo justo.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O salto.

Parado!
É assim que tudo está.
Ele a vê e nada faz.
Ela o vê e nada faz.
Basta ter álcool para ela se soltar.
Basta ter álcool para ela pular.
Basta ter álcool para ele se afastar.
Basta ter coragem para tudo se acertar.
Basta não saltar.
É só caminhar, isso basta!