sexta-feira, 24 de agosto de 2012
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Cantina Sogni d'oro!
Um dia cansativo chega ao fim. Ele caminha a passos de zumbi até a
cozinha de Pepe. Entra pelos fundos para não ser notado pelos clientes do
grande amigo italiano que ao vê-lo diz:
- Mio dio che cosa
ci fai qui in questo stato? (Meu Deus o que você está fazendo aqui neste
estado?).
- Tive um dia
muito pesado, alias, uma semana daquelas. Tem como me preparar a pizza da Mama
de oito fatias?
- Tens certeza mio
amico?
- Sim, sim.
- Certo. Vou
fazer. Vinho?
- Sim.
Enquanto esperava
Pepe fazer a pizza encaminhou-se para uma mesa vaga da cantina e degustou a
garrafa do vinho que preparava o coração. Ao término da garrafa, a pizza estava
pronta.
- Buon
appetito!
Olhou para a pizza
fixamente, fez uma prece e enquanto a olhava suas papilas gustativas começavam
a funcionar.
Pegou a primeira
fatia com a mão mesmo, sem guardanapo, tampouco garfo e faca. Foi matar logo a
sua fome. Estava diante daquela que se alimentava das
suas vísceras. Não teve muito tempo para saborear a fina massa
preparada pelo italiano. Era como a segunda-feira. O abre-alas da semana. A que
queremos que logo vá embora, que seja devorada.
A segunda fatia
foi engolida de maneira um pouco menos veloz, mas ainda assim rápida. Queria
que chegasse logo a quarta-feira. O dia que para ele consta como sendo a metade
da semana, o dia que vamos dar uma parada e foi assim que o fez na terceira
fatia, a quarta-feira.
Para degustar esta levantou a cabeça, respirou fundo e pediu um refrigerante. Enquanto a bebida não chegava, pensava um pouco na vida e percebeu que sua língua estava queimada. Foram as duas primeiras fatias que estavam muito quentes, mas por serem os dois primeiros dias da semana, não as quis sentir passar por suas papilas, mesmo elas se mostrando ansiosas para ficar, não ficaram. Entraram e desceram o túnel como as anteriores.
A quarta fatia já a degustou de maneira tal que sentiu prazer com a sua passagem. Era a fatia que antecipava a que para ele era a melhor: a quinta fatia, a sexta-feira.
Para degustar esta levantou a cabeça, respirou fundo e pediu um refrigerante. Enquanto a bebida não chegava, pensava um pouco na vida e percebeu que sua língua estava queimada. Foram as duas primeiras fatias que estavam muito quentes, mas por serem os dois primeiros dias da semana, não as quis sentir passar por suas papilas, mesmo elas se mostrando ansiosas para ficar, não ficaram. Entraram e desceram o túnel como as anteriores.
A quarta fatia já a degustou de maneira tal que sentiu prazer com a sua passagem. Era a fatia que antecipava a que para ele era a melhor: a quinta fatia, a sexta-feira.
Essa era especial.
Antes de degustá-la pediu a carta de vinhos. Essa merecia uma acompanhante a
altura. Esperou de maneira aflita sua acompanhante. Enfim ela chegou. Olhou
para a combinação. Sentiu um enorme prazer antes mesmo de toca-las. Estava excitado.
As comeu calmamente.
A sexta fatia chegou com a sensação de empanzinamento, mas a comeu. A ressaca gastronômica já se fazia presente no sábado.
A sexta fatia chegou com a sensação de empanzinamento, mas a comeu. A ressaca gastronômica já se fazia presente no sábado.
A sétima era o domingão. Chinelo, sofá e cobertas. Foi assim que
ele, já com o ritmo muito devagar, digeriu o último dia da semana, que na
realidade é o primeiro, no entanto, não é esta a ordem dele.
Parou diante da
última fatia. O nome dela era saudade. Com elas nas mãos deixou uma lágrima
escorrer por seu rosto. A cada milímetro percorrido por ela uma lembrança de
outrora se fazia presente em sua boca seca. Sentia seu coração bater acelerado
e preso em sua garganta. Os clientes assustados notaram que ele pediu a pizza
da Mama e chegará à última fatia.
Ele estava brincando
de estátua. Somente quem se movia era a água que percorria calmamente sua face
até parar. Parou na lembrança que ele mais gostava.
Via-se trancado no banheiro com milhares de músicas tocando em sua
mente. Dançava de um jeito que só ele e Deus conheciam. Cantava todas as
músicas sem ninguém ouvir quais eram. Era o seu segredo, a sua lembrança.
Pisca o olho.
Acelera a queda da gota. Deixa a fatia de pizza no prato e se vai.
Esta, a lembrança,
a saudade, ele jamais poderia devorar, tampouco degustar. Queria tê-la com
ele.
Pois ainda hoje,
muitos anos depois, tem este mesmo momento com Deus.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
O relógio.
Sentado, segurava com as mãos a cabeça que teimava em cair. Juntamente com ela caiam as lágrimas que escorrem sem parar por seu rosto formando um enorme lago sob seus pés. Ao seu redor algumas pessoas. Diante de sua própria dor, não consegue reconhecer quem são. Só sabe que suas bocas metralham milhares de palavras por segundo. Olha para cima e diz:
- Por que senhor?
Ao mesmo tempo enxerga um relógio. Fica hipnotizado olhando os números até que percebe algo diferente. O relógio está voltando no tempo.
Boquiaberto espera ansiosamente o próximo minuto agarrado na cadeira.
Ao piscar os olhos recebe uma enorme onda de água. Ao piscar novamente se desespera. A cadeira se tornou um pequeno barco. As metralhadoras saíram das bocas e estão presas no barco. Elas atiram milhares de balas por segundo para todos os lados. Está em uma guerra sobre as ondas de algum oceano Deus sabe onde. Coloca as mãos para fora e começa a remar loucamente fugindo das balas que passar tão perto de seus ouvidos que as escuta dizer: Oi, talvez meu outro amigo que vem aí atrás te acerte.
Ao levantar a cabeça, vê que rema para a morte. O oceano na realidade é um grande rio que está se acabando. Vem aí uma enorme queda d'água. Se rasteja para o final do barco para remar-contra-a-maré.
Tudo em vão. Cai. Enquanto cai, a paz de sentir voando é uma mão que lhe acaricia a alma.
Em posição fetal cai na água e bate a cabeça no fundo do rio. Atordoado, abre os olhos aos poucos. Muito barulho e luz. Senti a sua cabeça molhada. Ao colocar a mão no local e leva-la próximo dos olhos, tudo está vermelho. Sua cabeça sangra. Junta forças e se senta. Ao se sentar vê em seus pés chuteiras e em suas pernas, meiões. Bermuda e camisa também estão nele. Um companheiro vem correndo lhe ajudar.
- Você está bem? - disse.
Demorou mais alguns segundos para entender que levará um cotovelada na cabeça jogando a final do futebol de campo nas Olimpíadas.
- Onde estou? - perguntou assustado.
- É a final Peter. Estamos em casa contra os alemães.
- Que ano estamos?
- 2012. Você está bem?
- Sim, sim! Vamos jogar!
Levantou e foi em direção ao médico da seleção. Ele fez um curativo e o bravo jogador voltou para defender a sua Nação. Ao entrar novamente em campo todos gritavam seu novo nome.
- Peter! Peter! Peter! Peter!
Recebeu a bola e com um gingado e habilidade fora do comum no mundo britânico, partiu pra cima. Driblou até o juiz e "entrou com bola e tudo". O estádio veio a baixo.
- The game is over!! - gritava enlouquecidamente o locutor. Enxergava raiva no olhar dos torcedores ao gritar gol! O arbitro reiniciou a partida e assim que Peter pegou na bola, um alemão tamanho "G" lhe deu outra cotovelada. Estava no chão e, mais uma vez, ensanguentado. Só que dessa vez "o pau cantou". Enquanto alemães e britânicos se esmurravam, Peter se rastejava sem enxergar muito. Estava debilitado. Se rastejou e caiu no foço. Quando enfim bateu no chão escutou um enorme estouro. Terra e pedaços metálicos caíram sobre o seu corpo. Por alguns segundos ficou surdo, nos seguintes, ouvia zunidos até que minutos depois ouvia gritos e tiros. Sentou-se novamente e olhou para seus pés. As chuteiras deram lugar as botinas. Estava dentro de uma trincheira. Era a Segunda Guerra Mundial e ele, um soldado britânico. Em um segundo estava com medo, no outro confuso e no seguinte acendeu um cigarro e ficou esperando o relógio andar mais uma vez no tempo e leva-lo para outro lugar.
- Relógio, me tire daqui. Talvez para um mais agradável!
- Por que senhor?
Ao mesmo tempo enxerga um relógio. Fica hipnotizado olhando os números até que percebe algo diferente. O relógio está voltando no tempo.
Boquiaberto espera ansiosamente o próximo minuto agarrado na cadeira.
Ao piscar os olhos recebe uma enorme onda de água. Ao piscar novamente se desespera. A cadeira se tornou um pequeno barco. As metralhadoras saíram das bocas e estão presas no barco. Elas atiram milhares de balas por segundo para todos os lados. Está em uma guerra sobre as ondas de algum oceano Deus sabe onde. Coloca as mãos para fora e começa a remar loucamente fugindo das balas que passar tão perto de seus ouvidos que as escuta dizer: Oi, talvez meu outro amigo que vem aí atrás te acerte.
Ao levantar a cabeça, vê que rema para a morte. O oceano na realidade é um grande rio que está se acabando. Vem aí uma enorme queda d'água. Se rasteja para o final do barco para remar-contra-a-maré.
Tudo em vão. Cai. Enquanto cai, a paz de sentir voando é uma mão que lhe acaricia a alma.
Em posição fetal cai na água e bate a cabeça no fundo do rio. Atordoado, abre os olhos aos poucos. Muito barulho e luz. Senti a sua cabeça molhada. Ao colocar a mão no local e leva-la próximo dos olhos, tudo está vermelho. Sua cabeça sangra. Junta forças e se senta. Ao se sentar vê em seus pés chuteiras e em suas pernas, meiões. Bermuda e camisa também estão nele. Um companheiro vem correndo lhe ajudar.
- Você está bem? - disse.
Demorou mais alguns segundos para entender que levará um cotovelada na cabeça jogando a final do futebol de campo nas Olimpíadas.
- Onde estou? - perguntou assustado.
- É a final Peter. Estamos em casa contra os alemães.
- Que ano estamos?
- 2012. Você está bem?
- Sim, sim! Vamos jogar!
Levantou e foi em direção ao médico da seleção. Ele fez um curativo e o bravo jogador voltou para defender a sua Nação. Ao entrar novamente em campo todos gritavam seu novo nome.
- Peter! Peter! Peter! Peter!
Recebeu a bola e com um gingado e habilidade fora do comum no mundo britânico, partiu pra cima. Driblou até o juiz e "entrou com bola e tudo". O estádio veio a baixo.
- The game is over!! - gritava enlouquecidamente o locutor. Enxergava raiva no olhar dos torcedores ao gritar gol! O arbitro reiniciou a partida e assim que Peter pegou na bola, um alemão tamanho "G" lhe deu outra cotovelada. Estava no chão e, mais uma vez, ensanguentado. Só que dessa vez "o pau cantou". Enquanto alemães e britânicos se esmurravam, Peter se rastejava sem enxergar muito. Estava debilitado. Se rastejou e caiu no foço. Quando enfim bateu no chão escutou um enorme estouro. Terra e pedaços metálicos caíram sobre o seu corpo. Por alguns segundos ficou surdo, nos seguintes, ouvia zunidos até que minutos depois ouvia gritos e tiros. Sentou-se novamente e olhou para seus pés. As chuteiras deram lugar as botinas. Estava dentro de uma trincheira. Era a Segunda Guerra Mundial e ele, um soldado britânico. Em um segundo estava com medo, no outro confuso e no seguinte acendeu um cigarro e ficou esperando o relógio andar mais uma vez no tempo e leva-lo para outro lugar.
- Relógio, me tire daqui. Talvez para um mais agradável!
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