quinta-feira, 31 de maio de 2018

Texto raso


E tudo voltou ao normal. Tenho uma pilha de roupa para guardar, tenho que trocar a roupa de cama, lavar o carro por dentro e por fora, conter meus sonhos megalomaníacos e fazer algo para deixar de ser tão passivo.

Falar e falar, pensar e pensar pelo visto não adianta mais, mas um dia já adiantou?

Encontro-me todo dia, numa honestidade quase que divina questionando-me: o quê poderia eu fazer para um fim diferente haver?

Entra ano e sai ano e os aumentos são inseridos no meu orçamento. Gasolina, seguro de carro, passagem de ônibus, o pipocão na rua, o meu sagrado chocolate e até o motel. Todo ano tudo aumenta, menos o meu salário.

Quero deixar claro que a bronca não está no não aumento do meu salário, mas sim no aumento de tudo que não é o meu salário.

Acho lindas as justificativas (in)coerentes que me são dadas. Não seria melhor me dizer “quero a sua grana e pronto”? O que acho mais lindo é que essas “justificativas incoerentes” não mais são aceitas quando a história muda. Quando sou eu que meto a mão no bolso dos outros e digo: Brother, à vista você faz por quanto? Nesse momento a (in)coerência se torna roubo, tendo na figura do eu, o agente do roubo.

Incrível né?

Mais incrível ainda é a minha passividade. Não quero nem saber de você, das suas ações, e não o quero faz um bom tempo. Quero saber de mim. Quero voltar a dormir. Nunca tive insônia e agora tenho. Também, nunca dei tanto valor as minhas horas de trabalho. São graças a elas que recebo meu salário no fim do mês.

Percebi hoje, que enfim descobri o motivo pelo qual não durmo, o motivo pelo qual me sinto quase sempre incomodado: Estão me roubando todo dia, na cara dura e o pior, eu estou vendo e não faço ideia de como posso pará-los.