segunda-feira, 19 de maio de 2014

Links Alheios!

Depois de um fim de semana com sabor de domingo...

Amanheceu como de costume: o celular gritou que é hora dos compromissos; o corpo clama por cama; a mente ainda confusa não pensa, é insana e o coração, bombeia paz!

Vinte minutos após o grito do aparelho externo a mim resolvo cumprir com o combinado.

Lá vou eu levantar cambaleando, ouvir meu irmão exclamar “ô vidão!”, degustar um breve e saboroso leite com chocolate, banho e rua.  

No caminho, já sem sono e totalmente conectado ao aparelhinho que contém uma parte significativa da minha vida, resolvo escutar a trilha do dia, a trilha sonora do momento: Happy.

Assim como todo o conjunto presente nessa música, lá vou eu simplesmente feliz, assim mesmo, sem explicação. O que me remeteu a algumas prosas:


- Eaí man? Tudo na paz? – perguntaram eles. Eaí menino? Tudo bem? – perguntaram elas.
- Tudo um brisa! – aprendi o amplo significado desta.
- Que bom! Você “tá” bem mesmo né? Dá para perceber. Qual é o motivo!

Respondi com o meu clássico: Rapaaaaaaaz, tem não! Só estou bem leve! Matando no peito os problemas e chutando para longe e deixando no peito os que são bons! Simples assim!

 - Bonito isso! Mas fale a verdade. Qual é o nome dela?
- Dela quem? – questiono.
- Dessa mulher que está te fazendo ficar assim!
- Tem não! Foi só uma mudança na maneira de encarar a vida. Passei a não mais encará-la para leva-la (a vida) comigo!


Uma longa buzina me fez retornar ao lugar onde deveria estar: atrás do volante e não naquelas nuvenzinhas acima da cabeça quando estamos imaginado coisas (elas existem também na vida real, não são exclusivas dos quadrinhos).

Como aprendi em casa e revi com alguns amigos “doideiras” quando estamos bem as pessoas boas se (re)aproximam e as coisas boas também. Foi assim que não cheguei atrasado aos meus compromissos da manhã.

Foi um guarda me deixando passar aqui, um executivo me dando passagem ali, o semáforo abrindo assim que dobrei a esquina e por último àquela vaguinha esperta na frente do trabalho.

- Quero mais o quê? Diz aí porque para mim, está na medida!

Volto para casa e surpreendentemente não há congestionamento na rua! Mais músicas “alegria, alegria!” tocam no walkman até que resolvo olhar para o lado.

Um casal de idosos na Avenida Agamenon Magalhães (que poderiam estar em qualquer grande avenida de 
uma grande cidade) parados pedindo dinheiro. Normal se...

Se a senhora não estivesse cuspindo no chão.

Normal se...

Se ela não segurasse uma caixa de remédio, o provável motivo de estar ali.

Normal se...

O senhor ao lado dela (provável marido) não estivesse com uma sonda.

Normal se...

Ele não segurasse uma vasilha que deveria haver comida e não esmolas.

Normal se...

Ele não estivesse em pé e TODO enfaixado.

Normal se...

Não desse para ver o sangue misturado na urina.

Normal?

A vontade de parar o carro e atravessar as quatro faixas para dar dinheiro era enorme.

A percepção de que meu ato não seria o suficiente era enorme.

O silêncio era enorme.

A vontade de chorar também.

Podia ouvir a vida em alto e bom som me questionar:

- Eaí novinho, vai fazer o quê?

Outra buzina me trouxe a realidade. Ainda olhando para o casal ao lado acelerei. Mais adiante liguei o foda-se. Parei o carro, liguei o alerta e desci. O agente de trânsito me olhava querendo entender.
Abri a carteira e dei tudo o que tinha. Abri o coração e abracei ambos. Abri a consciência e, em lágrimas, perguntei:

- Precisa de mais alguma coisa?

O senhor acariciou-me a face e disse:

- Vá com Deus, meu filho! Sawabona!*¹

- Shikoba!*²


Voltei para o carro com um embrulho na alma e ainda sem conseguir segurar as lágrimas. Lembrei-me dos meus pais. Lembrei-me dos seus ensinamentos de agradecer SEMPRE! Enquanto agradecia escutei alguém batendo no vidro do carro. Era o agente. Quando olhei para o lado, ele chorava mais do que eu.

- Não sei se te agradeço ou reclamo contigo. – disse o homem que faz as vias fluírem.

- Por quê?

- Porque estou aqui desde as seis horas da manhã, vi esse casal chegar por volta das sete, me incomodou, mas não a ponto de ajuda-los e deixei para lá. Vá com Deus rapaz. E fique tranquilo que a multa será rasgada.

- Fico com Deus e com a consciência tranquila, pois cada um faz o que pode, quando pode. Você está fazendo as vias fluírem. Já é alguma coisa, não?

Deixei a partida e parti. Mas não mais ao som de Happy. Era tudo vácuo, era a ausência de algo que nem sabia mais se existia ou não.

De repente eles surgem me fortalecendo mais uma vez, Emicida e Rael.

“... às vezes não tem motivos para seguir
Vai, levanta e anda, vai levanta e anda!“

O literal não podia ser feito, então dobrei a esquina e deparei-me com o congestionamento. Tudo o que não queria estava lá. Quando menos movimento, mais tempo para estar imerso nas nuvenzinhas acima de mim, o que não seria deleitoso.

Tentava fugir das nuvenzinhas que se aproximavam de maneira perigosa eis que O Rappa veio até mim com as suas crianças e, se fosse mais evangélico diria que enxerguei a luz, como não sou apenas olhei para o céu que me apresentava à vida, que me apresentava um pouco dos meus ideais.

A minha frente, no meu caminho, o céu estava azul; a noroeste, o céu era tempestade, no desvio do meu caminho!

Basta escolher: continuar meu caminho (sem desconsiderar o quanto eu já caminhei) ou fugir do meu caminho pegando um desvio.

No Walkman:
Happy, Pharrell Williams
Levanta e anda, Emicida e Rael
Não perca as crianças de vista, O Rappa
A estrada, Cidade Negra.

Faça bom proveito!

*¹ Sawabona – eu te respeito, eu te valorizo. Você é importante para mim!

*² Shikoba – então, eu existo para você!