terça-feira, 29 de outubro de 2024

1.Escolha

 Algumas escolhas a vida nos deixa fazer livremente e outras não. Creio ser o natural e ser também o que traz vida a vida. Uns tem mais direitos a escolhas, já outros mais deveres. Outros não fazem ideia do que seja direto a escolha. É o que tem e pronto.

Creio também ser de senso comum existir momentos em nossas vidas que nos mudam completamente. Por entendimento de vida, imagino ser isso algo recorrente para todos, no entanto, por estarmos com a mente a milhão distraídos com quase nada relevante, deixamos esses momentos, os mais reais, se perderem. Isso torna a vida mais fantasiosa e menos real; mais angustiante e estressante e menos bela. Se você já assistiu A vida é bela conhece Guido Oferice, personagem de Roberto Benigni, e entende o quão necessário é enxergar a vida por outro ponto de vista.

Eis aqui um adiantamento (spoiler) falaremos também de filmes. 

Quando assisti o filme A vida secreta de Walter Mitty tive e ainda tenho em mim uma angustia real, presente e necessária de viver. De sair dos ambientes fechados internos e externos para interagir com o Planeta dos seres vivos, das mais diferentes formas possíveis.

Com o passar dos dias, noto, e imagino você também, os olhares fixos em telas. (In)felizmente trabalho com telas e ao final das horas de trabalho eu não quero viver fora das telas, eu preciso viver longe delas. Muito graças a Walter, Guido e V, personagem do filme V de Vingança. Falaremos dele em breve.

Soma-se a este balaio de gatos alguns fatores externos como home office e esposa no trabalho presencial. O dia somos só eu e as telas. O tempo passou e eu entendo o papel da cada um em minha vida.

Trocando uma ideia com V, ficou forte, presente e condição necessária a vida haver ideias que mudem as nossas maneiras de viver e justamente por isso, nunca podemos consideradas. Nesse momento lembrei da outra ideia conversada com Walter, a que o fez pegar o skate e sair. Lembrei do bate papo rápido com Guido numa troca de turno de trabalho, onde falávamos sobre ver sempre a beleza da vida. Concluímos ser necessidade real de passar a diante toda a beleza para o próximo também vê-la.

Mas como fazer isso atrás de telas? Criar estórias é uma opção. Contar Histórias também. E nesse omelete de ideias e sentimentos eu decide: Vou fazer minha primeira viagem sozinho. Eu e eu, afinal, sempre fui bom em fazer amizade. Falo com todo mundo, algo poderia dar errado? Consigo ver meus irmãos rindo com a última oração.

Eu sou precavido, logo, programei um lugar onde teria algum suporte caso algo desse errado. E pior deu errado, meus três suportes não estão na cidade e de quebra não achei local para ficar na cidade escolhida. Estou na cidade vizinha, uma cidade mais para viver do que para ser turista. 

O hotel, beira de estrada, literalmente. Tem caminhoneiros e militares de passagem pela cidade. Infelizmente o papo é inexistente, pois eles estão sempre na correria por estarem de passagem. O legal é ouvir as conversas sobre como o Brasil é grande. Isso me reanimou e resolvi escrever, pois já na vinda as ideias brotam após interpretações da vida, algo até então, imutável. Elas serão relatas no próximo texto. 

Voltando ao tema principal, para meus críticos literários não alegarem fuga do tema, eu escolhi estar sozinho viajando por uns dias e eis aqui minha primeira reafirmação de vida. Peçam bem aos céus, Deus, Deuses, forças da natureza, etc. Tentem deixar tudo muito bem explicado sobre como você quer a vida. Esteja também preparado para a mudança, pois é certo, algo vai sair "errado" para sabermos que a vida não é só o que queremos dela. Ela também quer.

Agora, cá estou eu, longe das partes turísticas e pensando: Passo quatros dias na frente das telas até a minha reserva na parte turística da cidade chegar? Resposta simples, não dá. Passei um dia é já quase enlouqueço. Gasto quase cem reais em aplicativo só ir e voltar todo dia para os locais turísticos Também não dá. Eu sou assalariado consciente. Então faço como, se ao redor não tem nada para ver além da vida corriqueira? Outro adiantamento, texto três vem aí.

Sou filho do meio, então vamos de meiuca, o famoso nem eu nem tu. 

Um dia de tela, um dia de rua. Afinal, a rua não é nóis? A rua até é nós, mas não aqui. Spoiler do quarto texto.

Vou indo nessa gastar cem reais e volto mais tarde para escrever o texto dois. 


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Ao som de No woman no cry, cantado por Gilberto Gil e Stephen Marley. Creio valer a pena ver o vídeo também. https://www.youtube.com/watch?v=HP9v3s8U71M

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Às vezes, vá ver!

    Como aprendemos nos filmes hollywoodianos, o momento triste existe exclusivamente com o céu cinza e chuva, mas a dor não é exclusiva deste contexto.

    Por acaso hoje pela manhã há céu cinza, mas não há chuva e mesmo assim a água cai.

    Homem que é Homem não pode chorar, ainda mais assim, do nada e logo cedo, sendo assim é hora de tomar banho. A saída perfeita, sair da cama direito para o banho.

    Lá com as gotas do chuveiro batendo no chão e respingando em minhas pernas, forço o olhar para o alto. Não posso deixar a água salgada que teima sair, seguir seu fluxo normal.

    Fixo o olhar no sabonete, nada melhor que desfocar e fugir, todavia, ao passar o polegar sobre a superfície lisa, não teve jeito. Toda aquela angustia apertando o peito há dias se vai.

    Assim como todo "desastre" climático que envolve abundância d'água, o que saia de mim, também não tinha controle, mesmo assim, o (ir)racional homem tenta controla-la.

    Enfim a aceitação chega em forma de pergunta: por que choras, homem?

    Vai ver é porque meus pais estão seguindo a ordem natural da vida e abriram contagem regressiva e incerta para deixar este plano. Pobre racionalidade, não enxerga com naturalidade a ordem natural da vida.

    Vai ver é porque estamos estranhos, todos nós, vivendo por viver, de modo automático, sem empatia. Vivemos desconectado da Terra. "Só" isso basta.

    Vai ver ouvir uma pessoa pedindo dinheiro com lágrimas nos olhos doa. Pensar "a galera está ficando boa, até chora!" é normal em um mundo apático, mas e o cheiro? O cheiro comprova, aquele semelhante andou o dia todo e são 23 horas do dia.

    Às vezes tudo aquilo que vemos e ouvimos e se acumula no peito só quer sair. Dessa forma a caminhada matinal deixa de ter função.

    Às vezes a vida só quer, e deve, seguir seu fluxo normal, e o homem tem que chorar. Seja escondido no banheiro enquanto toma banho, seja durante a caminhada matinal.

    Faz sol em Hollywood e as lágrimas continuam salgando a carne.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Dor na coluna.

 É sexta-feira, quase meio dia e Daniel está no seu dilema costumeiro entre comer na esquina a comida saudável de Dona Maria com suco sem açúcar, mas sem ar-condicionado ou partir para o shopping em busca de dois chopes e rodízio de carne regado a temperatura de 18 graus.

- Coé, Oscar! Vamos no shopping, eu prometo que vou dirigindo desta vez! Eu nem vou beber! - posso ouvi-lo dizer e posso ver Oscar voltando dirigindo, porque o safado do Daniel foi fazendo chantagem o caminho de ida todo para poder tomar os tradicionais chopes garotinhos. 

Dezessete horas! Rola o famoso, "Valeu rapaziada! Até segunda!" e Daniel pega o carro e se encaminha para casa. No som do carro, o pagode costumeiro das sextas-feiras, afinal, vai rolar o famoso engarrafamento do vão central do Ponte Rio-Niterói até o pedágio. Quem dera que o congestionamento fosse só neste pedaço da volta para casa.

Quase vinte horas e Daniel dobra na esquina de casa. De repente um susto. Uma freada brusca devido a um moleque que atravessa do nada na frente do carro. Sexta a noite, uma cafifa avoada é mais importante que a vida, pensa qualquer moleque suburbano. É horário de verão, ainda está claro.

A freada foi tão brusca que umas coisas que estavam sobre a tampa da mala do carro hatch voaram sobre o Daniel. Quando o susto passou, ele olha no chão e vê um caderno das antigas. 

- Caralho! Não acredito! O caderno!

Nessa hora ele ainda não sabia, mas este caderno o iria fazer mudar o rumo de casa e arrumar uma briga silenciosa com a esposa. No caderno os desenhos que ele e Oscar faziam na adolescência. Trinta minutos na esquina de casa parado vendo os desenhos o fez fazer uma chamada de vídeo com Oscar para mostrar os desenhos. Por sorte ou azar, ele estava perto. Combinaram um chopp enquanto viam os desenhos.

Nove da noite e a primeira ligação das esposas enfim foi atendido. Explicado tudo e vida que segue. 

Três da manhã e os dois enfim terminaram de ilustrar a primeira anedota dos tempos de infância no CVI. Do nada, um tapinha no ombro de cada um e quando se viram, eram seus filhos que nem mais moraram com eles.

- Vocês estão malucos? Já está amanhecendo e vocês aqui desenhando? Mamãe vai matar você quando souber que você faltou o jantar para ficar desenhando com Oscar. - disse o filho de Daniel.

O filho de Oscar nem comentar comentou, só no olhar Oscar sabia que ia dormir no sofá uma semana. Ciente disso, disse: Oh moleques, sentem aí. Olhem isso aqui, não tá maneiro?

Os dois jovens adultos se olharam e em pensamento disseram "nossos pais tem jeito não, pega a cadeira e bora entrar na deles". 

- Ei pai, vocês fizeram isso quando? Tem quanto tempo que estão desenhando? Isso está bom demais.

Os dois se olharem, deram um sorrisinho de canto de boca, se levantaram, se abraçaram e Daniel disse:

- Como já já vai amanhecer, aproveita os Correios na esquina da tua casa e envia para Nelsinho escrever isso aí.

Os filhos se olham novamente com aquele olhar de "esses caras tem jeito não, vambora pra casa que é melhor". 

E assim os coroas viraram moleques novamente, beberam alguns chopps garotinho e dormiram a semana toda no sofá. 

sexta-feira, 22 de março de 2024

Sarar o Mago

É sério Ângela? Olha ao seu redor, veja a melanina de quem nos serve, de quem nos pede e de quem está enjaulado nos camburões. Já  sei, fizeram por merecer. Deve ser, afinal não são netos de ninguém "importante", com sobrenome pomposo para ensiná-los sobre meritocracia. 

Às vezes, dá uma canseira danada ter sido ensinado a conectar os fatos em um mundo que cada dia mais somos forçados, e muitas vezes nos deixamos sermos forçados, a sermos alienados. Assim mesmo, cheio de repetições, não só gramaticais. 

Eu nem posso soltar um "vai pra puta que pariu" na mesa, afinal não seria polido e nem sei se a mãe dela é puta mesmo. Até na hora de xingar penso se é o xingamento certo, afinal, tenho que ser sempre coerente, senão, não serei lógico o suficiente. 

Ser o suficiente para muitos, aqueles que correlacionam a vida, já nem é mais a meta. A meta é só viver. Sem se importar com nada. 

"Era o primeiro ano que o menino de 11 anos ia sozinho para escola e acabou sendo atropelado dentro de um terminal de ônibus" pensado para matar e não para transportar. E daí? Ah como eu queria estar assim, leve. Mas aí vem o peso, por que você não vai querer me convencer de que o terminais de ônibus são milimetricamente pensados para que não ocorra atropelamentos? 

Ou seria irresponsabilidade dos pais, provavelmente da mãe, que deixou o menino ir sozinho. Não é assim que normalmente pensa o mundo? O peso é na mãe, mãe esta que deve ter recebido a ligação ainda entre o trajeto casa - trabalho, amassada entre muitas outras "pessoas". Deve ter recebido o telefone de profissional vestindo jaleco branco, com o estetoscópio no pescoço que disse "Senhora, compareça a UPA que seu filho morreu". Simples assim. 

Esse profissional que normalmente é chamado de doutor sem merecido, afinal normalmente não tem o título de Doutor. Só pode ser Doutor quem tem o título. Lá estou eu relacionando as coisas, chato né, Ângela? 

Poderia dizer mais, mas quero não. Deixo aí o texto embolado mesmo, sem revisão como é a vida, como tudo que está aqui dentro. 

Mamaste, Saramago.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

A falta no final.

Em qualquer jogo tem punição para falta

Exceto na vida, nela você tem que aprender a conviver com a falta

Tem que saber ser feliz mesmo com a falta

Todo dia, santo ou não, grita, a falta

Mas, você finge não ouvir a falta

Saber jogar é difícil, com a falta

Mas, se vem logo no inicio, a falta

Não tem jogo. 

Só falta!


sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Um dia como outro qualquer!

Hoje, um dia como outro qualquer, eu fiquei com preguiça de tomar café e desisti de correr logo cedo. Seis da manhã no nordeste já é sol de meio dia, a noite eu vou, ou não. É meu aniversário, hoje posso faltar, né?

 

Claro que não, hoje como um dia qualquer, pessoas chegam neste plano e outras se vão! Eu, quase queimo o arroz enquanto trabalho. Home office tem dessas coisas. É tão dia qualquer que escolhi trabalhar. Mas, eis a pista de que hoje, talvez, não seja um dia qualquer: eu fiz feijão e sem perguntar a ninguém, só ao Google, que não é gente, então pode. (Google, não me hackei por isso).

 

Hoje, como de costume, falei com pessoas que só voltarei a falar daqui a um ano; falei com pessoas  que falo todo dia e elas nem vão se ligar que nasci hoje; vou esperar que alguns se lembrem e ficar surpreso porque outros não lembraram. Hoje a comunicação vai me relembrar que somos múltiplos.
         
Pois é, hoje como um dia qualquer, me deu vontade de escrever e até postar fotos, mas ter um        imagem com todos que quero é impossível. Então, o melhor escrever. Perai, que o feijão está        cheirando, é hora de tampar a panela de pressão.
 
Voltei. 

 

Trintas minutos e a primeira parte do feijão estará pronta. Isso não quer dizer que ele já estará      saboroso. Faltará o segredo que é tão segredo que ainda não descobri.

 

Hoje é um dia legal, normalmente do jeito que gosto, com sol. Se tem sol, o mundo ganha aderência e paradoxo. Com sol há o calor, com o calor há o suor, com o suor há a vontade do banho de mar e de se reunir, mas por favor, dá um espacinho porque está quente. Sem muito contato. Juntos mas sem contato.
           
Ser humano, tão paradoxalmente simples! Ou seria simplesmente paradoxal? 
           
Um dia como outro qualquer, me deu vontade de escrever e escrevi. A especialidade foi que publiquei. Talvez, 2024 reserve a frequência na publicação. 
 

             


 

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Texto raso


E tudo voltou ao normal. Tenho uma pilha de roupa para guardar, tenho que trocar a roupa de cama, lavar o carro por dentro e por fora, conter meus sonhos megalomaníacos e fazer algo para deixar de ser tão passivo.

Falar e falar, pensar e pensar pelo visto não adianta mais, mas um dia já adiantou?

Encontro-me todo dia, numa honestidade quase que divina questionando-me: o quê poderia eu fazer para um fim diferente haver?

Entra ano e sai ano e os aumentos são inseridos no meu orçamento. Gasolina, seguro de carro, passagem de ônibus, o pipocão na rua, o meu sagrado chocolate e até o motel. Todo ano tudo aumenta, menos o meu salário.

Quero deixar claro que a bronca não está no não aumento do meu salário, mas sim no aumento de tudo que não é o meu salário.

Acho lindas as justificativas (in)coerentes que me são dadas. Não seria melhor me dizer “quero a sua grana e pronto”? O que acho mais lindo é que essas “justificativas incoerentes” não mais são aceitas quando a história muda. Quando sou eu que meto a mão no bolso dos outros e digo: Brother, à vista você faz por quanto? Nesse momento a (in)coerência se torna roubo, tendo na figura do eu, o agente do roubo.

Incrível né?

Mais incrível ainda é a minha passividade. Não quero nem saber de você, das suas ações, e não o quero faz um bom tempo. Quero saber de mim. Quero voltar a dormir. Nunca tive insônia e agora tenho. Também, nunca dei tanto valor as minhas horas de trabalho. São graças a elas que recebo meu salário no fim do mês.

Percebi hoje, que enfim descobri o motivo pelo qual não durmo, o motivo pelo qual me sinto quase sempre incomodado: Estão me roubando todo dia, na cara dura e o pior, eu estou vendo e não faço ideia de como posso pará-los.