sexta-feira, 26 de abril de 2024

Dor na coluna.

 É sexta-feira, quase meio dia e Daniel está no seu dilema costumeiro entre comer na esquina a comida saudável de Dona Maria com suco sem açúcar, mas sem ar-condicionado ou partir para o shopping em busca de dois chopes e rodízio de carne regado a temperatura de 18 graus.

- Coé, Oscar! Vamos no shopping, eu prometo que vou dirigindo desta vez! Eu nem vou beber! - posso ouvi-lo dizer e posso ver Oscar voltando dirigindo, porque o safado do Daniel foi fazendo chantagem o caminho de ida todo para poder tomar os tradicionais chopes garotinhos. 

Dezessete horas! Rola o famoso, "Valeu rapaziada! Até segunda!" e Daniel pega o carro e se encaminha para casa. No som do carro, o pagode costumeiro das sextas-feiras, afinal, vai rolar o famoso engarrafamento do vão central do Ponte Rio-Niterói até o pedágio. Quem dera que o congestionamento fosse só neste pedaço da volta para casa.

Quase vinte horas e Daniel dobra na esquina de casa. De repente um susto. Uma freada brusca devido a um moleque que atravessa do nada na frente do carro. Sexta a noite, uma cafifa avoada é mais importante que a vida, pensa qualquer moleque suburbano. É horário de verão, ainda está claro.

A freada foi tão brusca que umas coisas que estavam sobre a tampa da mala do carro hatch voaram sobre o Daniel. Quando o susto passou, ele olha no chão e vê um caderno das antigas. 

- Caralho! Não acredito! O caderno!

Nessa hora ele ainda não sabia, mas este caderno o iria fazer mudar o rumo de casa e arrumar uma briga silenciosa com a esposa. No caderno os desenhos que ele e Oscar faziam na adolescência. Trinta minutos na esquina de casa parado vendo os desenhos o fez fazer uma chamada de vídeo com Oscar para mostrar os desenhos. Por sorte ou azar, ele estava perto. Combinaram um chopp enquanto viam os desenhos.

Nove da noite e a primeira ligação das esposas enfim foi atendido. Explicado tudo e vida que segue. 

Três da manhã e os dois enfim terminaram de ilustrar a primeira anedota dos tempos de infância no CVI. Do nada, um tapinha no ombro de cada um e quando se viram, eram seus filhos que nem mais moraram com eles.

- Vocês estão malucos? Já está amanhecendo e vocês aqui desenhando? Mamãe vai matar você quando souber que você faltou o jantar para ficar desenhando com Oscar. - disse o filho de Daniel.

O filho de Oscar nem comentar comentou, só no olhar Oscar sabia que ia dormir no sofá uma semana. Ciente disso, disse: Oh moleques, sentem aí. Olhem isso aqui, não tá maneiro?

Os dois jovens adultos se olharam e em pensamento disseram "nossos pais tem jeito não, pega a cadeira e bora entrar na deles". 

- Ei pai, vocês fizeram isso quando? Tem quanto tempo que estão desenhando? Isso está bom demais.

Os dois se olharem, deram um sorrisinho de canto de boca, se levantaram, se abraçaram e Daniel disse:

- Como já já vai amanhecer, aproveita os Correios na esquina da tua casa e envia para Nelsinho escrever isso aí.

Os filhos se olham novamente com aquele olhar de "esses caras tem jeito não, vambora pra casa que é melhor". 

E assim os coroas viraram moleques novamente, beberam alguns chopps garotinho e dormiram a semana toda no sofá. 

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