quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Um abraço no alto do morro!


Ao longo da breve vida aprendeu a rir para não chorar.
Agora é tudo novidade. Estava tão triste que sentia a amargura tomar conta de suas papilas gustativas. O gosto da vida era muito amargo.
Olhava desesperado para todos pedindo ajuda. Qualquer um servia. Mas, aprendeu tão bem a fingir, que a maioria não percebia a sua dor. Poucos notaram, todavia, logo pensavam:
- Ele triste? Amargo? É impressão!
Aqueles raríssimos que o conheciam no íntimo sabiam que ele estava triste, porém, como consolá-lo? Afinal, sempre saem dessa boca, hoje amarga, as doces palavras de conforto. Os puxões de orelha visando à melhora, a transformação. Como ajuda-lo?
Como não tinham dimensão da gravidade da situação, voltaram a se concentrar em suas tarefas, pois em breve ele voltaria ao normal com a amargura dando lugar a doçura. Pelo menos assim imaginavam.
Então ele foi procurar a criança. Ela iria lhe ajudar.
Pediu-a um abraço. Ela fez o recorrente charme e lhe deu o abraço.
A reação dela foi instantânea. Assustada, se afastou. Sentiu as energias dele muito tristes. Atordoada o olhou para ele, enfim alguém o enxergava.
No lugar do lindo sorriso havia o silêncio. Os olhos vivos estavam afogados em lágrimas tristes. O neném com medo, saiu correndo e gritando:
- Mamãe, mamãe, o tio está chorando!
Agarrou a com toda força e insistiu tanto que ela foi vê-lo. Ao chegar lá, nada viu de anormal. Só o velho irmão forte em sua armadura pronto para ajudar a todos.
Já o neném viu um tio que nunca vira. Havia uma nova faceta. Não viu o palhaço. Procurou o professor, a criança brincalhona, o adulto chato, o contador de estórias, o doceiro... Tudo em vão. Procurou até o guerreiro com toda a sua armadura e nada.
Foi nessa momento que ela viu em um canto a armadura do guerreiro.
Foi aí que ela entendeu que naquele dia o guerreiro se despiu das suas quinquilharias e quem ali estava era uma criança. Uma criança mais indefesa do que ela.
Era um ser precisado de cuidado.
No seu interior ela sabia que não tinha meios para ajudá-lo. Sabia também que não tinha condições de coloca-lo no colo e esperar suas lágrimas secarem. Porque naquelas águas havia muita dor e o retrato dele tatuado no coração dela não havia espaço para dor oriunda da alma dele.
O pior é que ele não sabia a origem.
Queria o remédio amargo. Que alguém o pegasse a força, o colocasse no colo e em silêncio fizesse aquela dor amarga ir embora. Que o fizesse adormecer para quando despertar se ver no colo de alguém sendo ninado, só para variar.
Tudo o que ele queria era um pouco de carinho.
Tudo o que ele queria era que parecem de olha-lo para enxerga-lo.

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