sexta-feira, 9 de março de 2012

Sexta-Feira!

Em um piscar de olhos o lutador se vê no chão! No outro piscar se encontra na UTI. Imóvel. Estava em coma, mas não sabiam que podia ver e ouvir tudo.
A memória se fazia presente.
- Vamos guerreiro, você sai dessa. - dizia seu treinador.
- Papai acorda, hoje é dia de sorvete.

Neste instante a lágrima desliza suavemente em sua face diante te tal pedido. Eis alí mais uma cicatriz.

Havia saído como todo santo dia, mas aquele dia não era santo.
As mazelas da semana que o maltrataram no ringue começavam a sugar-lhe as forças de tal maneira que no último dia útil da semana não queria mais levantar. Foi neste momento que a razão resgatou-lhe na memória a frase: Força, você não é assim, é um campeão, já foi mais difícil lembra?

Tomou banho, colocou a vestimenta que lhe fez voltar no tempo. Agora sim, estava de volta as origens. Camisa do Flamengo, calça jeans, tenis de SK8, e no walkman Racionais, Black Alien, Criolo, Sabotagem...
Agora sim, a força está comigo.
Vai caminhando com o corpo fechado para se manter mais um dia. A doçura da vida se perdeu, justo aos 45 do segundo tempo. Tenso. Mas, o jogo só acaba quando o juíz apita e ele ainda não apitou, tampouco soou o gongo.

Uma buzina trouxe a memória novamente para frente no tempo.

Estava ele no intervalo da luta. Todo quebrado. A vida, companheira diária nos treinos, naquela semana estava o massacrando sem piedade. O rosto do coração não existia mais. Estava deitado na maca. Seu treinador dizia: Vamos guerreiro, você sai dessa!
Foi quando sua filha entrou no vestiário e vendo seu pai e tal estado disse: Papai, ganha logo, hoje é dia de sorvete lá em casa. É geladinho, vai curar os dodóis.
Este não voltou.  Quem voltará foi outra pessoa. A furia se fazia presente em seus olhos. O sangue se mistura com a água de seu corpo. No final, após vencer correu para os braços da pequena. Vermelho sim, mas não sangrando, nem com raiva. Estava vermelho de amor pela sua pequena.

No dia seguinte, colocaram seus óculos escuros (para não aparecer os dodóis do papai e para ela se parecer com o mesmo), ela subiu no pescoço do pai, este pegou o seu SK8 e foram passear pela praia. Sentir o fresco vento oriundo do marzão. O ventinho aumenta mais quando ela começa a gritar: Mais rápido papai, mais rápido!
Depois, aquele caida no mar, um sorvetinho e pra casa correndo ainda mais sobre a prachinha que desliza no asfalto quente.

Soa o gongo, apita o juíz.

FIM!

2 comentários:

  1. =O
    Sem fôlego da leitura... Nem preciso dizer q é intensa e forte não é?
    Mas, obrigada por mais uma lição!

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  2. Muito lindo!! captura a beleza, a poesia e a epopeia do cotidiano. E esse amor?? É tão forte que já existe antes mesmo do pequeno nascer né?! Que coisa!! Dá pra entender a força do pai...

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