Vasculha o guarda-roupa para
arruma-lo e sem estar escondido encontra uma lembrança dela que diz
"nossas músicas para alegrar nossos dias =)". Essa frase com a
carinha é o reflexo dela. É inevitável o cair das lágrimas. Mesmo tendo o olhar
embasado, consegue enxergar ao lado um livrinho; um livrinho que tem vinte
anos. Nele há o seu primeiro expurgo, o expurgo para o pai e hoje ele sabe o
motivo de ser justamente para o pai. Aquelas poucas lágrimas se transformam em
um dilúvio de emoções. As pernas não aguentam o peso do coração inchado de
sentimentos bons e dobram. No chão consegue ver uma pasta cheia de desenhos seus
feitos para a mãe, o irmão e para a irmã. Nunca os mostrou. Do chão olha para o
céu a procura de Deus e enxerga o desenho que Pitoco fez para ele.
- Toma tio, pra você!
- Um leão Pitoco?
- É! – disse ela dando um beijo
nele e indo brincar sorridente.
Já não enxergava mais nada. Tudo
era água em Recife. Troca de roupa rápido, pega o camelinho, o walkman e sai.
Vai pedalar por aí. Aliviar a pressão que vem do coração. A pressão que tenta
lhe mostrar um novo caminho. Um novo caminho presente de tudo de bom do
passado. Com o vento na cara e a chuva no lombo se fecha assim como faz o
caramujo.
Enfim está em casa! Pedalando e
ouvindo as músicas que lhe trazem fé! A fé e a esperança não mais no bom
amanhã, mas sim no excelente presente. Está só. Só ele, o camelinho, o walkman,
mas com o peito cheio de um passado bom que lhe impulsiona pra frente!
"Volte a brilhar!"
Sobre as pontes e overdrives vê o
mangue e os caranguejos andando de lado. Não senti o que para uns é fedor, não
enxerga o que para uns é feio. Vê naquela lama a vida se tornar vida; a vida mais
uma vez começando.
Uma inspirada forte e longa
olhando para o céu. Fecha os olhos e sente as gotas do céu vindo lavar. Vindo levar
tudo o que o angustia! Por alguns minutos pedala de olhos fechados. Simplesmente
pedala, ouve os anjos e sente o frio se transformar em calor.
Retira o walkman do ouvido e
consegue ouvir, mesmo naquela forte chuva, os passarinhos a cantar. Olha para o
céu e os vê vivendo, mesmo sob chuva. Estar molhado nunca foi problema,
"né mãe?".
Toda aquela inquietude do
presente, todas aquelas dúvidas do presente, a incerteza se foi e agora e se vê
novamente de mãos dadas com a mãe a caminho da escola, como há vinte anos quando
escreveu seu primeiro rabisco. Lembrou-se
de toda a dificuldade e de como saia dela.
- Sempre sorrir enquanto caminha! –
essa é a nossa missão, esse é "o gesto forte que só ele pode ver!".
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