sábado, 18 de maio de 2013

Sensorial, consciente e recorrente!


Vasculha o guarda-roupa para arruma-lo e sem estar escondido encontra uma lembrança dela que diz "nossas músicas para alegrar nossos dias =)". Essa frase com a carinha é o reflexo dela. É inevitável o cair das lágrimas. Mesmo tendo o olhar embasado, consegue enxergar ao lado um livrinho; um livrinho que tem vinte anos. Nele há o seu primeiro expurgo, o expurgo para o pai e hoje ele sabe o motivo de ser justamente para o pai. Aquelas poucas lágrimas se transformam em um dilúvio de emoções. As pernas não aguentam o peso do coração inchado de sentimentos bons e dobram. No chão consegue ver uma pasta cheia de desenhos seus feitos para a mãe, o irmão e para a irmã. Nunca os mostrou. Do chão olha para o céu a procura de Deus e enxerga o desenho que Pitoco fez para ele.

- Toma tio, pra você!

- Um leão Pitoco?

- É! – disse ela dando um beijo nele e indo brincar sorridente.

Já não enxergava mais nada. Tudo era água em Recife. Troca de roupa rápido, pega o camelinho, o walkman e sai. Vai pedalar por aí. Aliviar a pressão que vem do coração. A pressão que tenta lhe mostrar um novo caminho. Um novo caminho presente de tudo de bom do passado. Com o vento na cara e a chuva no lombo se fecha assim como faz o caramujo.

Enfim está em casa! Pedalando e ouvindo as músicas que lhe trazem fé! A fé e a esperança não mais no bom amanhã, mas sim no excelente presente. Está só. Só ele, o camelinho, o walkman, mas com o peito cheio de um passado bom que lhe impulsiona pra frente!

"Volte a brilhar!"

Sobre as pontes e overdrives vê o mangue e os caranguejos andando de lado. Não senti o que para uns é fedor, não enxerga o que para uns é feio. Vê naquela lama a vida se tornar vida; a vida mais uma vez começando.

Uma inspirada forte e longa olhando para o céu. Fecha os olhos e sente as gotas do céu vindo lavar. Vindo levar tudo o que o angustia! Por alguns minutos pedala de olhos fechados. Simplesmente pedala, ouve os anjos e sente o frio se transformar em calor.

Retira o walkman do ouvido e consegue ouvir, mesmo naquela forte chuva, os passarinhos a cantar. Olha para o céu e os vê vivendo, mesmo sob chuva. Estar molhado nunca foi problema, "né mãe?".

Toda aquela inquietude do presente, todas aquelas dúvidas do presente, a incerteza se foi e agora e se vê novamente de mãos dadas com a mãe a caminho da escola, como há vinte anos quando escreveu seu primeiro rabisco.  Lembrou-se de toda a dificuldade e de como saia dela.

- Sempre sorrir enquanto caminha! – essa é a nossa missão, esse é "o gesto forte que só ele pode ver!".

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