Um dia cansativo chega ao fim. Ele caminha a passos de zumbi até a
cozinha de Pepe. Entra pelos fundos para não ser notado pelos clientes do
grande amigo italiano que ao vê-lo diz:
- Mio dio che cosa
ci fai qui in questo stato? (Meu Deus o que você está fazendo aqui neste
estado?).
- Tive um dia
muito pesado, alias, uma semana daquelas. Tem como me preparar a pizza da Mama
de oito fatias?
- Tens certeza mio
amico?
- Sim, sim.
- Certo. Vou
fazer. Vinho?
- Sim.
Enquanto esperava
Pepe fazer a pizza encaminhou-se para uma mesa vaga da cantina e degustou a
garrafa do vinho que preparava o coração. Ao término da garrafa, a pizza estava
pronta.
- Buon
appetito!
Olhou para a pizza
fixamente, fez uma prece e enquanto a olhava suas papilas gustativas começavam
a funcionar.
Pegou a primeira
fatia com a mão mesmo, sem guardanapo, tampouco garfo e faca. Foi matar logo a
sua fome. Estava diante daquela que se alimentava das
suas vísceras. Não teve muito tempo para saborear a fina massa
preparada pelo italiano. Era como a segunda-feira. O abre-alas da semana. A que
queremos que logo vá embora, que seja devorada.
A segunda fatia
foi engolida de maneira um pouco menos veloz, mas ainda assim rápida. Queria
que chegasse logo a quarta-feira. O dia que para ele consta como sendo a metade
da semana, o dia que vamos dar uma parada e foi assim que o fez na terceira
fatia, a quarta-feira.
Para degustar esta levantou a cabeça, respirou fundo e pediu um refrigerante. Enquanto a bebida não chegava, pensava um pouco na vida e percebeu que sua língua estava queimada. Foram as duas primeiras fatias que estavam muito quentes, mas por serem os dois primeiros dias da semana, não as quis sentir passar por suas papilas, mesmo elas se mostrando ansiosas para ficar, não ficaram. Entraram e desceram o túnel como as anteriores.
A quarta fatia já a degustou de maneira tal que sentiu prazer com a sua passagem. Era a fatia que antecipava a que para ele era a melhor: a quinta fatia, a sexta-feira.
Para degustar esta levantou a cabeça, respirou fundo e pediu um refrigerante. Enquanto a bebida não chegava, pensava um pouco na vida e percebeu que sua língua estava queimada. Foram as duas primeiras fatias que estavam muito quentes, mas por serem os dois primeiros dias da semana, não as quis sentir passar por suas papilas, mesmo elas se mostrando ansiosas para ficar, não ficaram. Entraram e desceram o túnel como as anteriores.
A quarta fatia já a degustou de maneira tal que sentiu prazer com a sua passagem. Era a fatia que antecipava a que para ele era a melhor: a quinta fatia, a sexta-feira.
Essa era especial.
Antes de degustá-la pediu a carta de vinhos. Essa merecia uma acompanhante a
altura. Esperou de maneira aflita sua acompanhante. Enfim ela chegou. Olhou
para a combinação. Sentiu um enorme prazer antes mesmo de toca-las. Estava excitado.
As comeu calmamente.
A sexta fatia chegou com a sensação de empanzinamento, mas a comeu. A ressaca gastronômica já se fazia presente no sábado.
A sexta fatia chegou com a sensação de empanzinamento, mas a comeu. A ressaca gastronômica já se fazia presente no sábado.
A sétima era o domingão. Chinelo, sofá e cobertas. Foi assim que
ele, já com o ritmo muito devagar, digeriu o último dia da semana, que na
realidade é o primeiro, no entanto, não é esta a ordem dele.
Parou diante da
última fatia. O nome dela era saudade. Com elas nas mãos deixou uma lágrima
escorrer por seu rosto. A cada milímetro percorrido por ela uma lembrança de
outrora se fazia presente em sua boca seca. Sentia seu coração bater acelerado
e preso em sua garganta. Os clientes assustados notaram que ele pediu a pizza
da Mama e chegará à última fatia.
Ele estava brincando
de estátua. Somente quem se movia era a água que percorria calmamente sua face
até parar. Parou na lembrança que ele mais gostava.
Via-se trancado no banheiro com milhares de músicas tocando em sua
mente. Dançava de um jeito que só ele e Deus conheciam. Cantava todas as
músicas sem ninguém ouvir quais eram. Era o seu segredo, a sua lembrança.
Pisca o olho.
Acelera a queda da gota. Deixa a fatia de pizza no prato e se vai.
Esta, a lembrança,
a saudade, ele jamais poderia devorar, tampouco degustar. Queria tê-la com
ele.
Pois ainda hoje,
muitos anos depois, tem este mesmo momento com Deus.
Gosteii! A metáfora é muito boa e conduz o leitor até o fim. Gostei tb da forma como conduziu a relação entre o alimento, a pizza, e os sentimentos humanos! Bom texto!!
ResponderExcluirObg Beth! Pensei em você e nas nossas conversas quando escrevi! =D
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