quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Mestre.


O Mestre

Negro! Chapéu de palha artificial sobre os cabelos grisalhos. Uma vista o trabalho insalubre deixou toda escura; a outra só tem 20% de sua capacidade, todavia, a seu alcance é enorme. Roupas simples notoriamente gastas com o tempo. O chinelo de couro constantemente desliza sobre o piso, o senhor aparenta estar ansioso. Ansioso para colocar para fora as marcas que a vida lhe deu. Marcas essas que estão na mão direita que segurou a enxada por muitos anos. Que amarrou a cana, que consertou motores, que fez barulho batendo palmas nas rodas de coco. Nessa mesma mão direita, a mão do cumprimento, ainda há os resquícios do cimento que um dia ajudou a misturar. Nessa mão direita as linhas estão se apagando. A barba grisalha e por fazer mostra de onde veio. Veio de longe. De um lugar onde a voz é usada para contar prosas e cantar. Em uma tarde clara de sol, numa tarde de primavera um senhor veio dar aos acadêmicos uma prosinha. Uma pitada de luz e alegria iluminou à tarde de certo jovem. Esse jovem lembrou-se de seu avô. Um avô que só lembra-se vagamente. Que a mente não mente ao lhe dar a gostosa lembrança de alguns minutos no colo de seu avô ouvindo prosas, ouvindo coisas da vida sob o olhar de seus pais. Naquele homem com barba por fazer, se fez o retorno ao passado. Os jovens do presente que o trouxeram o chamam de “O Mestre”. Os olhos de um jovem se inundam d’água com as frases do Mestre.
- Hoje em dia o amor é caixão pra casal! – diz O Mestre.
Certos encontros na vida estão marcados em linhas bem fortes, assim como as linhas da mão direita do Mestre. O Mestre se diz analfabeto, afinal “só estamos prontos quando nos passamos”, aí sim estamos alfabetizados. A mesma mão direita com que escrevo, O Mestre escreveu na terra. A mesma mão direita que junta essas letras para formar palavras, O Mestre usou para juntar a semente na terra; a cana com a corda; a água com o pó; a graxa com o motor... Misturou a vida de trabalhos pesados com a alegria de viver. Trouxe para nós o conhecimento de que somos todos loucos e para não entrarmos em crise temos que ocupar a cabeça com toda essa simplicidade de ser, que perpassa pelo vocabulário, pela vestimenta e pelas atitudes. A sabedoria da vida está na maestria com que percorremos os caminhos que nos são dados. Nesses caminhos haverá pedras, mas com uma pitadinha de prosa nós as contornamos. As pedras nos deixaram marcas e apagaram outras, no entanto, a maestria está em ao final de tudo sorrir, assim como faz O Mestre.

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